Friday, February 22, 2013
Moderno passando o antigo
Ferrari 521 ultrapassando a carretera de Santilli nas 1000 Milhas de 1970. Última edição da corrida em que correram carreteras.
Monday, February 18, 2013
MIL MILHAS DE 1965
Por Carlos
de Paula
Em 1965 as
Mil Milhas já eram, de longe, a prova mais tradicional do calendário brasileiro.
Mas, coisas de Brasil, a corrida não era disputada desde os idos de 1961! No
centro da questão estava a pergunta: quem tinha direito de realizar competições
no Brasil? As brigas entre os Automóveis Clube e as Federações parecia chegar a
um final, ou pelo menos uma trégua neste final de 65, com certeza devido à
intervenção de um general de verdade, Elói Menezes. E esta era a época dos
generais. Na véspera da corrida, uma surpresa: o Automóvel Clube do Brasil
ameaçava suspender de atividades internacionais todos os pilotos que
participassem da prova. Ou seja, no auge da participação das fábricas no
automobilismo brasileiro, as Mil Milhas ficaram ausentes do calendário, e agora
que a corrida voltava, as fábricas estavam ausentes. De qualquer forma a corrida
foi disputada já no fim de 1965, após um ano muito disputado entre as fábricas,
e as coisas pareciam estar tomando um rumo para o pior para as equipes oficiais.
As Simca Abarth se foram para a Itália, havia rumores desconcertantes sobre a
Vemag, e a Willys simplesmente não compareceu, receosa da retaliação (a equipe
iria participar do Torneio de F-3 na Argentina no início de 1966, com o
Gávea).
Camilo disparou na frente, mas quebrou. Sua vez chegaria...logo.
Isto não
tirou o brilho das Mil Milhas de 1965. Lá estavam Camilo Christófaro e sua
carretera, em dupla com Antonio Carlos Aguiar. Também presente, o grande gaúcho
Catharino Andreatta, em dupla com seu filho Vittorio. E uma série de outras
carreteras, como a de Caetano Damiani, Justino de Maio, Zé Peixinho, José Vera,
Luiz Valente e o também grande Breno Fornari, com uma carretera “Simca”. A
equipe Jolly apareceu com suas Alfas 25 e 23, com Emilio Zambello, Marivaldo
Fernandes, Piero Gancia e Ruggero Peruzzi. Também corria um JK muito competitivo
(já chamado FNM!), com Jaime Pistilli e Leonardo Campana, além de um sem número
de DKWs, Gordinis/1093 e Simcas, perfazendo um total de 39 bólidos. Todos
ameaçados de suspensão.
Caetano
Damiani e Bica Votnamis chegaram em 2o. com a 34
Briga entre Damiani e Gancia com a Alfa 23
antes de quebrar
Camilo
Christófaro demonstrou a sua intenção de coroar um bom ano com a sua primeira
vitória nas 1000 Milhas, e saiu na cola de Caetano Damiani, que largara melhor,
logo passando para a ponta. Em terceiro outra carretera, de Justino, seguido das
duas Alfas e de um FNM, de Ugo Galina. Catharino Andreatta estreava um motor,
que amaciava na própria corrida, portanto não estava nas primeiras posições. O
train de corrida foi vagaroso desde o início, nunca inferior a 4 minutos, e
durante a noite, mais um cavalo foi atropelado numa Mil Milhas. Desta feita, o
azarado foi Francisco Zeni, mas pelo menos saiu incólume do acidente. E Totó
Porto filhou capotou com seu Gordini, também sem machucar-se.
Ruggero Peruzzi empurrando a Alfa 23, cujo tanque de gasolina quebrou: a
esta altura, completamente intoxicado
Camilo e
Aguiar lideraram durante um bom tempo, até as três e meia da madrugada. Na
73a volta, Camilo estaciona no Sargento, com quebra da ponta de eixo.
Pelo menos Camilo e Aguiar ganharia a última corrida de 1965, as 250 Milhas.
Assim Camilo/Aguiar deixara a liderança com Caetano Damiani, que fazia parceria
com Bica Votnamis. Atrás deles já estava Andreatta, que assumiu a liderança às
6:30. Infelizmente, a última 1000 Milhas de Andreatta não seria coroada com
vitória. Seu filho Vittorio dirigia quando quebrou a direção do carro. Assim,
com as falhas da carreteras, assumia a ponta Piero Gancia e sua fiel Alfa 23.
Entretanto, seu tanque de gasolina se desprendeu após meia hora na liderança,
jogando ao ar uma vitória potencialmente fácil. O piloto Ruggero Peruzzi se
intoxicou com o forte cheiro do combustível no carro, no qual foi improvisado um
desastrado tanque de plástico!
Chegada triunfal
de Maio/Azzalin
Vista pela traseira
de Maio/Azzalin
Após tantas
mudanças de liderança, finalmente chegou à ponta a carretera de Justino de Maio
e Vitório Azzalin, que não mais largaram a primeira posição. Justino teve boas
atuações no passado, inclusive nos 500 km de Interlagos, mas não se podia dizer
que era um “piloto de ponta”. Muito menos Azzalin. Mas este era o dia deles, não
era o dia dos rápidos e feras. Até a Alfa 25 de Zambello, que subira muitas
posições após ficar mais de uma hora nos boxes, chegando ao segundo posto,
começou a apresentar muitos problemas. Assim a dupla paulista acabou ganhando a
prova, literalmente na maciota, e novamente a corrida foi ganha por uma
carretera. A corrida acabou sendo também o melhor resultado de Bica Votnamis
numa disputa importante, pois chegou em segundo com Damiani na carretera
Corvette n° 34. Em terceiro, o FNM de Pistilli
e Campana, que fez boa corrida desde o começo, seguido do mítico Breno Fornari,
em dupla com Nestor Kosch e a Equipe Gancia. Classificado em 16° o futuro campeão do mundo Emerson
Fittipaldi, em começo de carreira com um humilde 1093. Outro fato curioso foi o
apelido presunçoso do companheiro do sempre vagaroso Inacio Terrana: T.
Nuvuolari(!!!!)
Classificação final das Mil Milhas Brasileiras
de 1965 27/11/1965
Posição/Pilotos
|
Número/Carro
|
Voltas
|
1. Justino
de Maio/Vitório Azzalim Filho
|
Carretera
Chevrolet Corvette n° 50
|
201
|
2. Caetano
Damiani/Bica Votnamis
|
Carretera
Chevrolet Corvette n° 34
|
199
|
3. Jaime
Pistilli/Leonardo Campana Filho
|
FNM
n° 5
|
185
|
4. Breno
Fornari/Nestor Koch
|
Carretera
Simca n° 35
|
184
|
5.
Marivaldo Fernandes/Emilio Zambello/Piero Gancia/Ruggero Peruzzi
|
Alfa Romeo
Giulia n° 25
|
182
|
6. Fernando
Pereira/Helio Mazza
|
Renault
1093 n° 75
|
180
|
7. Armando
Lagoeiro/Abelardo Aguiar
|
Volks
Porsche n° 45
|
178
|
8. Charles
Marzanasco/Osorio Araujo
|
DKW
n°19
|
177
|
9. Eduardo
Celidonio/Adão Brito Daher
|
Carretera
Gordini n° 99
|
177
|
10. Luiz
Valente/Luiz Valente Filho
|
Carretera
Ford n° 22
|
174
|
11. Luiz
Felipe Gama Cruz/Coruja
|
Renault
1093 n° 27
|
173
|
12. Claudio Bernard/Edward
Nahun
|
Simca
n° 87
|
173
|
13. Clovis
Bueno/João Batista Caldeira
|
Renault
1093 n° 85
|
172
|
14.
Valdomiro Pieski/Expedito Marazzi
|
DKW
n° 32
|
170
|
15. Arlindo
Viginewski/Jose Vera Filho
|
Chevrolet
Corvette n° 61
|
167
|
16.
Marivaldo Fernandes/Emilio Zambello/Piero Gancia/Ruggero Peruzzi
|
Alfa Romeo
Giulia n° 23
|
159
|
17. Marcelo
Audra/Silvano Pozzi
|
VW
Carretera n° 9
|
157
|
18. Emerson
Fittipaldi/Antonio Verda
|
Renault
1093 n° 16
|
155
|
19.
Aguia/Pardal
|
Gordini
n° 40
|
149
|
20. Ugo
Galina/Luciano Borghese
|
FNM
n° 39
|
149
|
21. Luciano
Bonnini/Chuvisco
|
Fiat
Stanguelini n° 30
|
145
|
22.
Arquimedes/Santo
|
DKW
n° 37
|
143
|
23.
Mago/Antonio Duarte
|
Renault
1093 n° 8
|
142
|
24. Nilo
Barros Vinhais/Roberto Dal Pont
|
DKW
Protótipo n° 20
|
139
|
25. Volante
13/Roberto G. Mendonça
|
DKW Mickey Mouse n°
13
|
123
|
26. Zé
Peixinho/Aires Bueno Vidal
|
Chevrolet
Corvette carretera n° 7
|
123
|
27. Catharino Andreatta/Vittorio
Andreatta
|
Carretera
Chevrolet Corvette n° 2
|
120
|
28.
Ariberto Iassi/Luiz Carlos Sansone
|
Alfa
Giulietta n° 28
|
122
|
29. Osmar
Coutinho/Mario Puchielli
|
Carretera
Ford n° 36
|
106
|
30. Roberto
Argentino Gomes/Rui Santiago
|
Simca
n° 82
|
106
|
31. Inacio
Terrana/T. Nuvuolari
|
Simca
n° 51
|
96
|
32. Jeff
Gagá/Zoroastro Avon
|
Gordini
n° 88
|
75
|
Friday, February 15, 2013
NOVAS E VELHAS CARRETERAS
Por Carlos
de Paula
O carro
híbrido é uma tradição do automobilismo brasileiro. Seja pelas condições
econômicas do país, pela distância dos centros de maior desenvolvimento do
automobilismo ou mesmo pela inventividade do nosso povo, o automobilista
brasileiro, durante grande parte da história do automobilismo tupiniquim,
procurou adaptar chassis, componentes e motores de eras e fabricantes diferentes
em automóveis de competição.
Nos anos
30, diversos pilotos empreendedores criaram carros especiais para correr na
corrida da Gávea e em outras (raras) provas, geralmente baseados em Fords,
Chevrolets, Studebakers e outros carros americanos, sem muita chance contra os
carros puros de competição Alfa-Romeo, Maserati, Bugatti e até mesmo Auto-Union.
Estes híbridos em geral pouco se pareciam com os carros de turismo originais nos
quais se baseavam. Foi nesse espírito, e calcado na experiência argentina (o
Turismo de Carretera com longas corridas de estrada), que surgiu no Brasil a
categoria de Mecânica Nacional, mais conhecida como carreteras. Na sua forma
mais marcante as carreteras eram baseadas em cupês americanos dos anos 30 e 40,
com mecânica Chevrolet, Ford, Cadillac ou Studebaker. Os motores eram V8s
americanos potentes, os carros tinham uma aparência mista de brabos e ao mesmo tempo, inócuos. Os
pára-lamas eram retirados da frente, dando uma certa pinta de monoposto à parte
frontal do carro, com a traseira obviamente herdada dos cupês de rua, alguns
lembrando os velhos táxis de São Paulo. Os carros freqüentemente usavam
diferenciais de carros de corrida, transmissão de um fabricante, motor de outro.
O ponto mais fraco das carreteras era a suspensão. Nas curvas mais fechadas de
Interlagos, as carreteras geralmente eram batidas por pequenos e mais estáveis
Gordinis e DKWs, com um quinto da cilindrada. Na sua última fase algumas
carreteras eram equipadas com poderosos motores Chevrolet Corvette, alguns dizem
com mais de 400 HP, embora nos anos 50 fossem mais comuns as carreteras Ford.
Carretera Chervolet Corvette 18 de Camilo
Cristófaro
Outra vista da 18
Close da 18. Foto cortesia de
Rogério P.D. Luz
As
carreteras fizeram muito sucesso no Brasil entre as décadas de 40 até meados da
década de 60. A mais famosa, sem dúvida,
foi a número 18 de Camilo Cristofaro, cor creme, e também a carretera com melhor
aerodinâmica e aparência mais moderna, por ser rebaixada. Entre outras corridas,
a 18 ganhou as 1000 Milhas de 1966, Camilo em dupla com Eduardo
Celidônio, inúmeras provas em Interlagos, e correu até 1971. Digamos, a “18” foi
a última das moicanas, e correu contra Porsches, Lolas e Ferraris na Copa Brasil do final de
1970. O próprio Camilo assumiu que a carretera já estava ultrapassada, e no ano
seguinte passou a correr com um protótipo Fúria-Ferrari, depois equipado com
motor Chrysler. A carretera 18 participou de inúmeras provas de longa distância
em Interlagos, mas também participou de corridas curtas, sendo eficaz em ambas.
Cabe salientar que a “18” não foi a única carretera de Camilo. Em 1957, Camilo correu em dupla com
Djalma Pessolato em uma carretera preparada por Camilo. Na 43a, volta
Djalma quase se chocou com um cavalo, freqüentes visitantes de Interlagos na
época, acidentou-se, vindo a falecer dos ferimentos. O carro foi completamente
destruído. A 18 não foi o único carro de corrida utilizado por ele nesta fase da
sua carreira. Também correu na mecânica-continental (veja artigo)com um
Maserati 250F com motor Chevrolet, Maseratis esporte, com FNM JK, e com uma
Ferrari 250 GTO, na qual ganhou uma importante corrida no Rio de Janeiro, em 1965. Mais tarde, correu
de Maverick na D-3 e D1, e com Chevrolet Opala, no qual fez sua última corrida
em 1979. Raramente corria fora de São Paulo.
Carretera Ford de Breno Fornari, 1956
Outras
carreteras a fazer sucesso eram as dos gaúchos, principalmente Norberto Jung,
Catarino Andreatta, Vitorio Andreatta, Julio Andreatta, , Raul Fernandes,
Aristides Bertuol, Italo Bertão, Orlando Menegaz, Breno Fornari, Jose Asmuz,
Diogo Ellwanger, Nactivo Camozzato, Waldir Rebbeschini e Aldo Finardi. Quase
todo automobilismo gaúcho dos anos 40 até meados dos anos 60 era disputado com
provas de carreteras, inclusive em diversas cidades do interior. Quando o radialista
Wilson Fittipaldi pai concebeu as Mil
Milhas com Eloy Gogliano, o conceito não foi abraçado com muito entusiasmo por
paulistas, habituados com corridas de carros esporte e monopostos, mais curtas,
em formato de GP. O jeito foi convidar os gaúchos, entusiasmados com as provas
de longa duração e carros de rua adaptados, e estes, de fato, dominaram a fase
inicial das Mil Milhas, ganhando cinco das primeiras seis edições disputadas. No
Rio Grande do Sul, na época sem autódromo, disputavam-se muitas corridas em
estradas de terra e em circuitos urbanos de rua. Norberto Jung e Catarino
Andreatta foram, sem dúvida, dois grandes expoentes dessa época do automobilismo
gaúcho.
Carretera de Nelson Marcilio
Outra vista da 38 de Nelson Marcilio
Chico
Landi também correu de carretera, aqui em dupla com Gimenes
Lopes
A 34 de Cateano Damiani. Esta deu trabalho para
Camilo
Outros
paulistas, como Caetano Damiani e Nelson Marcilio, também fizeram sucesso, assim
como Justino de Maio e Vittorio Azalin, os últimos, vencedores das 1000 Milhas de 1965. No
Paraná, Altair Barranco, Angelo Cunha e José Cury eram os reis das carreteras,
fazendo inclusive sucesso no Rio Grande do Sul. Diversos outros paranaenses, e
alguns catarinenses, participaram das primeiras edições das Mil Milhas com suas
carreteras. Todos os grandes pilotos dos anos 50, e alguns dos anos 60, correram
de carreteras: Chico Landi, Ciro Cayres, Celso Lara Barberis, Eugenio Martins,
Fritz D'Orey, Luis Valente, Djalma Pessolato, Jose Gimenez Lopes, Godofredo
Vianna, Luis Margarido, Emílio Zambello, Claudio Daniel Rodrigues, Rosalvo
Mansur, Antonio Carlos Avallone, Antonio Carlos Aguiar, Afonso Aguiar. Além de
outros, não tão famosos, que contribuiram para o show: Aires Bueno Vidal, Zé
Peixinho, Berco Acherboim, Bica Votnamis, etc. Outros híbridos na época eram os
mecânica-continental. Para mais informações (veja artigo.)
Justino de Maio/Vittorio Azalin, vencedores das 1000 Milhas de
1965
Uma carretera do Paraná...
Uma carretera catarinense...
...e uma carretera gaúcha
Corrida de Carreteras no Rio Grande do
Sul
Corrida de carreteras em São Paulo: Nelson Marcilio
(atras) x Aires Bueno Vidal (na frente)
Carretera de Argemiro Pretto, de Encantado,
RS
Carretera Ford do paranaense Altair Barranco
em rara aparição fora do Paraná. Subida de Montanha em Petrópolis, 1967. Foto de
Tulio Mendonça Mario
Cabe aqui
um parentesis. O Brasil não era, obviamente, o único país onde proliferavam
híbridos. Na tradição de hot-rodding, surgiram muitos carros híbridos de
competição nos Estados Unidos durante a década de 40 e 50. Geralmente, eram
desenvolvidos por pilotos que não tinham cacife para comprar Ferraris, OSCAS e
outros carros esporte, eram chamados de “Special”, e equipados com motores
Buick, Ford, Chevrolet, etc. A Argentina, segundo vimos, foi o berço das
carreteras na forma em que passamos a conhecer aqui. Como o nome indica, eram
carros adaptados para correr em “carreteras”, ou seja, estradas, as épicas
corridas de longa distância que cortaram o continente sul-americano – portanto,
além de rápidos tinham de ser forçosamente resistentes. De fato, as carreteras
não se expandiram só no Brasil, mas também no Uruguai, Peru e Chile. Híbridos
argentinos participaram, em massa, da segunda edição dos 1000 km de Buenos Aires
de 1955, obviamente sem nenhuma chance contra oponentes europeus (veja artigo). Mas assim
marcaram sua presença no automobilismo de nível internacional. Com o passar do
tempo, as carreteras argentinas foram se modernizando, e, de fato, ainda existe
a categoria Turismo de Carretera (TC) na Argentina, mas os carros em nada
parecem seus precursores, que obtiveram uma aparência mais moderna já durante a
década de 60.
Carretera argentina dos anos 40
Nos anos 60 as carreteras argentinas já não se
pareciam mais com carreteras...
Entre as
carreteras tradicionais, corriam também alguns outros carros de menor porte,
como DKWs e até mesmo Gordinis, com os pára-lamas removidos ou cortados, e às
vezes até o teto rebaixado, que os excluía da categoria turismo. Com a remoção
de lataria ficavam mais leves, e assim, mais rápidos. Por correr na categoria
Força Livre (outro nome para as carreteras), os preparadores tinham mais
liberdade para modificar os veiculos. Alem disso, principalmente nos últimos
anos da categoria, não havia carros V8 suficientes para preencher mesmo um grid
pequeno, daí o artifício. A própria equipe Vemag tinha sua carretera, o DKW
Mickey Mouse do Volante 13, que, entre outros, um dia teve a distinção de ser
pilotado por um certo Juan Manuel Fangio em Interlagos. E a equipe de fábrica da
Simca ganhou os 1600 KM de Interlagos de 1963, com Jaime Silva/ Ciro
Cayres, com uma carretera Simca, de duas portas e teto rebaixado, batendo os
experts Andreatta/Breno Fornari.
Fangio pilotando a Mickey Mouse da Vemag, em
Interlagos
Além
disso, construíam-se carreteras com motores de menor potência, por exemplo, a
carretera Fiat usada por Emilio Zambello no início da sua carreira, que fez
bastante sucesso. Nas corridas de carreteras também corriam Alfas importadas,
Volvos, Fiats, etc. Só que estes carros geralmente não eram híbridos, pois toda
sua parte mecânica e carroceria pertenciam a um único fabricante. Digamos que
foi necessário ampliar um pouco a definição do termo para garantir a
sobrevivência da categoria.
Mas dentro
desse mesmo “espírito híbrido”, Christian Heins e Eugênio Martins colocaram um
motor Porsche 1600 num humilde Fusquinha, e quase deu zebra na primeira edição
das Mil Milhas, em 1956,
contra forte contingente de carreteras do Sul e de São Paulo. Chegaram em
2o. Lá pelos idos de 1966, as carreteras começavam a se tornar
anacrônicas, apesar da vitória de Camilo/Celidônio nas 1000 Milhas. Mas outro
carro com espírito híbrido fez muito sucesso naquele ano: os Karmann Ghias
equipados com motor Porsche, da Equipe Dacon, híbrido que apareceu nas pistas
pela primeira vez em 1964
e é muito lembrado até hoje.
Com o
surgimento da Divisão 3 e Divisão 4, basicamente os híbridos ficaram deslocados,
não tinham onde correr. Não eram carros turismo, nem tampouco,
esporte-protótipos. E assim foram desaparecendo, pouco a pouco, do cenário das
competições. Mas não no automobilismo de rua. Amantes de carros antigos
brasileiros, principalmente Simcas e Gordinis, adaptaram motorizações híbridas
nos seus carros, entre outras coisas, por falta de opções. Com o passar dos
anos, tornou-se quase impossível arranjar peças e blocos de Simcas, DKWs e
Gordinis. Assim que não é incomum ver Simcas rodando com motores Opala, Gordinis
com motores Corcel adaptados e DKWs sem o típico bu-pu-bu do motor 2 tempos. O
espírito dos híbridos permaneceu no coração brasileiro.
Carretera
Fiat de Luis Finotti - Interlagos, 2004 - As carreteras Vivem!!
Não é de se
estranhar que tenha surgido uma categoria de competição com esse espírito, em
São Paulo. O campeonato de Autos Antigos de 2004 já conta com 30 participantes,
desenterrando e trazendo de volta às pistas Berlinettas Interlagos, DKWs, FNMs
JK, Fuscas, Pumas, Gordinis, carreteras, etc. O campeonato difere do Campeonato
de Clássicos, também corrido em São Paulo, que conta com a participacão de
diversas Alfas GTA. Muitos desses carros são carros de turismo, embora antigos,
mas diversos são verdadeiras carreteras, embora não haja nenhuma no molde
“Chevrolet Corvette V8”. A categoria tem três subcategorias, 1, 2 e 3. Um dos
carros mais fortes da categoria é um Willys Interlagos equipado com motor Ford
Escort, pilotado pelo veterano Luis Evandro Águia. Um dos DKWs, o de Nivaldo
Almeida, se enquadra bem no espírito híbrido: é equipado com um motor AP, em vez
do venerado 2 tempos de 1 litro. E a Fiat Topolino de Luis Finotti é uma
verdadeira mini-carretera. Vejam as fotos a seguir. Ou seja, as carreteras ainda
vivem em São Paulo!
Interlagos com motor Ford Escort, de Luis Aguia - Carretera 2004
style
Quem diria, em pleno 2004 um DKW correndo em
Interlagos. Carretera de Flavio Gomes
VELHAS
CARRETERAS GOZANDO APOSENTADORIA...
O CAMPEONATO BRASILEIRO DE MONTANHA DE 1967
Por Carlos de Paula
Seria injusto dizer que
os cartolas do automobilismo brasileiro pelo menos não tentavam fazer as coisas.
Mas numa época em que o País finalmente contava com dois autódromos (Interlagos e Rio), com um terceiro em vias
de ser inaugurado naquele ano (Curitiba), e com a programação
de uma categoria de monopostos que tinha tudo para dar certo, a Fórmula Vê, os dirigentes
decidem criar um Campeonato Brasileiro de Subida de Montanha para 1967.
Haja paciência!
As corridas de subidas de
montanha são muito populares na Europa até hoje, principalmente na Itália,
Alemanha, França e Inglaterra. Só que na
época, a modalidade tinha muito mais prestígio do que hoje, contando com
equipes de fábrica da Ferrari e Porsche, entre outras, e revelando pilotos de
categoria, como Lodovico Scarfiotti, Gerhard Mitter, Rolf Stommelen, Dieter
Quester, Arturo Merzario, e uma longa lista. No Brasil, apesar de
termos a Serra do Mar, e da intensa falta de autódromos na época, a categoria
nunca pegou. Realizaram-se algumas provas já nos anos 30, uma das quais foi
ganha pelo Barão Hans Stuck. Petrópolis era um dos locais prediletos, e
até a Serra de Santos fora usada em corridas da modalidade.
Portanto, foi com certa
surpresa que, do nada, apareceu um Campeonato Brasileiro de Subida de Montanha,
em 1967.
A vantagem desta
modalidade é o fato de as corridas não causarem muito desgaste nos carros.
Normalmente, os bólidos passam só alguns minutos correndo. Na maioria das
provas, o carro tem duas oportunidades de marcar tempos, em outros o uma, e a
grande maioria dos traçados não excede dez minutos. Outra vantagem é que a subida de montanha é
um resquício das grandes provas de velocidade em estrada, que estavam caindo em
desuso no Brasil. Por ter traçados mais curtos, criavam menos
inconveniência e perigo. A desvantagem é que são corridas contra o
tempo, não há disputas entre carros na pista, e a maioria dos espectadores
boiava completamente.
A simpática
carretera 99 de Eduardo Schrappe
A primeira prova do
glorioso torneio foi realizada na Serra da Graciosa, no Paraná. A pista tinha
trechos em asfalto, e paralelepípedo, incluindo uma ponte perigosa, com o
curioso nome de Mãe Catira, e após a subida da serra, seguia-se um trecho plano,
com diversas curvas de alta velocidade. A prova, oficialmente chamada “Paulo
Pimentel” (mais de uma prova foi chamada Paulo Pimentel, como opor exemplo, a
prova do Rodovia do Xisto, em
1968), atraiu concorrentes de São Paulo, como a forte equipe Willys e a Equipe Jolly Gancia, mas a
maioria dos concorrentes era local. Entre os paranaenses, destacava-se a equipe
Transparaná, com Ettore Beppe, e as carreteras de Altair
Barranco e Ângelo Cunha.
23 carros participariam
da prova, mas dois, um Simca de Bruno Castilho, e
um Interlagos de Luiz Gastão Ricciardella, tiveram problemas.
A prova transcorreu sem
problemas, e foi ganha por Luiz Pereira Bueno,
com o Alpine 1300 n° 47, seguido de Bird Clemente, com o 46. O
melhor paranaense foi Beppe, que chegou em 3° com seu Interlagos da Transparaná, seguido da
primeira carretera, com Altir Barranco, em 4°. Zambello só conseguiu o 7° lugar, com a Alfa Giulia TI n° 23, e Ângelo Cunha desapontou um pouco, obtendo
somente o 8° lugar,
Col.
|
N°
|
Piloto
|
Carro
|
Tempo
|
1
|
47
|
Luiz Pereira Bueno
|
Alpine 1300
|
17m43s957, média 106,245
km/h
|
2
|
46
|
Bird
Clemente
|
Alpine
1300
|
18m16s589
|
3
|
101
|
Ettore
Beppe
|
Interlagos
|
19m5s933
|
4
|
45
|
Altair Barranco
|
Carretera Ford
|
19m19s836
|
5
|
99
|
Eduardo Schrappe
|
Carretera Chevrolet
|
19m24s736
|
6
|
103
|
Carlos Colli
Monteiro
|
Gordini
|
19m44s185
|
7
|
23
|
Emilio Zambello
|
Alfa Giulia TI
|
20m4s6007
|
8
|
74
|
Ângelo Cunha
|
Carretera Ford
|
20m7s451
|
9
|
104
|
Bernardo Trindade
Filho
|
Gordini
|
2om42s495
|
10
|
105
|
Marcos Jose Olsen
|
Gordini
|
20m45s334
|
A segunda, e última
corrida do campeonato se deu em Petrópolis. Não surpreendeu o fato de uma das
etapas do campeonato, a ser disputada em Belo Horizonte, não ter sido realizada.
Não havia um único campeonato da época que não tinha provas canceladas,
portanto, o cumprimento de 2/3 do calendário causou surpresa!
O trecho escolhido foi
entre os quilômetros 9 e 19 da Estrada Rio-Petrópolis, palco de diversas
corridas do tipo no passado, e contou com a participação de diversos pilotos do
Estado do Rio, de São Paulo, e até mesmo do paranaense Altair Barranco, que
trouxera a sua Carretera Ford de Curitiba. A Willys comparecia
novamente, estreando os protótipos Mark I, pilotados por Luisinho e Bird, e
numeração diferente, agora 21 e 22. Entre os inscritos, três carros de Fórmula
Vê, para Nelson Basto, Antonio Pinto de Sousa e Jofre Gomes, todos três do Rio,
e nenhum deles piloto de expressão da categoria. Zambello comparecia novamente,
agora com a Alfa GTA número 23, e Mario Olivetti inscreveu a sua Alfa 65. João
Varanda inscreveu seu Karman Ghia Porsche. Além disso, estavam presentes
diversos Fuscas, DKWS, KGs, um Malzoni e Gordinis.
Os Mark I ja estrearam ganhando. Aqui o 22 de
Bird.
Os Mark I eram de longe
os melhores carros da provam, e a ganharam com certa facilidade. O tempo de
Luisinho foi 4 segundos mais rápido do que o de Bird, que por sua vez, foi 4 s
mais rápido do que o de Olivetti. O paranaense Barranco chegou em 5°, atrás do primeiro Fórmula Vê, o Sprint de Nelson
Bastos. Zambello demonstrou não se adaptar bem às provas de subida de montanha,
chegando somente em 9° lugar, atrás dos outros Fórmula Vê, separados por
somente 1/10 de segundo!
O resultado final da
prova foi:
Col.
|
N°
|
Piloto
|
Carro
|
Tempo
|
1
|
21
|
Luiz Pereira Bueno
|
Prot Willys
Mark I
|
6m13s 1/10 média 96,514
km/h
|
2
|
22
|
Bird
Clemente
|
Prot Willys
Mark I
|
6m17s
|
3
|
65
|
Mario Olivetti
|
Alfa GTA
|
6m21s4/10
|
4
|
1
|
Nelson Bastos
|
Sprint Vê
|
6,m45 1/10
|
5
|
45
|
Altair Barranco
|
Carretera Ford
|
6m48s
|
6
|
7
|
João Varanda
|
Karmann Ghia Porsche
|
6m50s1/10
|
7
|
37
|
Antonio Pinto de
Souza
|
Jaja-Vê
|
6m54s
|
8
|
69
|
Jofre Gomes
|
Sprint Vê
|
6m54s1/10
|
9
|
23
|
Emilio
Zambello
|
Alfa
GTA
|
6m57s
4/10
|
10
|
9
|
Giovanni Bianchi
|
Malzoni
|
7m,03s 2/10
|
Subscribe to:
Posts (Atom)