Por Carlos de Paula
Seria injusto dizer que
os cartolas do automobilismo brasileiro pelo menos não tentavam fazer as coisas.
Mas numa época em que o País finalmente contava com dois autódromos (Interlagos e Rio), com um terceiro em vias
de ser inaugurado naquele ano (Curitiba), e com a programação
de uma categoria de monopostos que tinha tudo para dar certo, a Fórmula Vê, os dirigentes
decidem criar um Campeonato Brasileiro de Subida de Montanha para 1967.
Haja paciência!
As corridas de subidas de
montanha são muito populares na Europa até hoje, principalmente na Itália,
Alemanha, França e Inglaterra. Só que na
época, a modalidade tinha muito mais prestígio do que hoje, contando com
equipes de fábrica da Ferrari e Porsche, entre outras, e revelando pilotos de
categoria, como Lodovico Scarfiotti, Gerhard Mitter, Rolf Stommelen, Dieter
Quester, Arturo Merzario, e uma longa lista. No Brasil, apesar de
termos a Serra do Mar, e da intensa falta de autódromos na época, a categoria
nunca pegou. Realizaram-se algumas provas já nos anos 30, uma das quais foi
ganha pelo Barão Hans Stuck. Petrópolis era um dos locais prediletos, e
até a Serra de Santos fora usada em corridas da modalidade.
Portanto, foi com certa
surpresa que, do nada, apareceu um Campeonato Brasileiro de Subida de Montanha,
em 1967.
A vantagem desta
modalidade é o fato de as corridas não causarem muito desgaste nos carros.
Normalmente, os bólidos passam só alguns minutos correndo. Na maioria das
provas, o carro tem duas oportunidades de marcar tempos, em outros o uma, e a
grande maioria dos traçados não excede dez minutos. Outra vantagem é que a subida de montanha é
um resquício das grandes provas de velocidade em estrada, que estavam caindo em
desuso no Brasil. Por ter traçados mais curtos, criavam menos
inconveniência e perigo. A desvantagem é que são corridas contra o
tempo, não há disputas entre carros na pista, e a maioria dos espectadores
boiava completamente.
A simpática
carretera 99 de Eduardo Schrappe
A primeira prova do
glorioso torneio foi realizada na Serra da Graciosa, no Paraná. A pista tinha
trechos em asfalto, e paralelepípedo, incluindo uma ponte perigosa, com o
curioso nome de Mãe Catira, e após a subida da serra, seguia-se um trecho plano,
com diversas curvas de alta velocidade. A prova, oficialmente chamada “Paulo
Pimentel” (mais de uma prova foi chamada Paulo Pimentel, como opor exemplo, a
prova do Rodovia do Xisto, em
1968), atraiu concorrentes de São Paulo, como a forte equipe Willys e a Equipe Jolly Gancia, mas a
maioria dos concorrentes era local. Entre os paranaenses, destacava-se a equipe
Transparaná, com Ettore Beppe, e as carreteras de Altair
Barranco e Ângelo Cunha.
23 carros participariam
da prova, mas dois, um Simca de Bruno Castilho, e
um Interlagos de Luiz Gastão Ricciardella, tiveram problemas.
A prova transcorreu sem
problemas, e foi ganha por Luiz Pereira Bueno,
com o Alpine 1300 n° 47, seguido de Bird Clemente, com o 46. O
melhor paranaense foi Beppe, que chegou em 3° com seu Interlagos da Transparaná, seguido da
primeira carretera, com Altir Barranco, em 4°. Zambello só conseguiu o 7° lugar, com a Alfa Giulia TI n° 23, e Ângelo Cunha desapontou um pouco, obtendo
somente o 8° lugar,
Col.
|
N°
|
Piloto
|
Carro
|
Tempo
|
1
|
47
|
Luiz Pereira Bueno
|
Alpine 1300
|
17m43s957, média 106,245
km/h
|
2
|
46
|
Bird
Clemente
|
Alpine
1300
|
18m16s589
|
3
|
101
|
Ettore
Beppe
|
Interlagos
|
19m5s933
|
4
|
45
|
Altair Barranco
|
Carretera Ford
|
19m19s836
|
5
|
99
|
Eduardo Schrappe
|
Carretera Chevrolet
|
19m24s736
|
6
|
103
|
Carlos Colli
Monteiro
|
Gordini
|
19m44s185
|
7
|
23
|
Emilio Zambello
|
Alfa Giulia TI
|
20m4s6007
|
8
|
74
|
Ângelo Cunha
|
Carretera Ford
|
20m7s451
|
9
|
104
|
Bernardo Trindade
Filho
|
Gordini
|
2om42s495
|
10
|
105
|
Marcos Jose Olsen
|
Gordini
|
20m45s334
|
A segunda, e última
corrida do campeonato se deu em Petrópolis. Não surpreendeu o fato de uma das
etapas do campeonato, a ser disputada em Belo Horizonte, não ter sido realizada.
Não havia um único campeonato da época que não tinha provas canceladas,
portanto, o cumprimento de 2/3 do calendário causou surpresa!
O trecho escolhido foi
entre os quilômetros 9 e 19 da Estrada Rio-Petrópolis, palco de diversas
corridas do tipo no passado, e contou com a participação de diversos pilotos do
Estado do Rio, de São Paulo, e até mesmo do paranaense Altair Barranco, que
trouxera a sua Carretera Ford de Curitiba. A Willys comparecia
novamente, estreando os protótipos Mark I, pilotados por Luisinho e Bird, e
numeração diferente, agora 21 e 22. Entre os inscritos, três carros de Fórmula
Vê, para Nelson Basto, Antonio Pinto de Sousa e Jofre Gomes, todos três do Rio,
e nenhum deles piloto de expressão da categoria. Zambello comparecia novamente,
agora com a Alfa GTA número 23, e Mario Olivetti inscreveu a sua Alfa 65. João
Varanda inscreveu seu Karman Ghia Porsche. Além disso, estavam presentes
diversos Fuscas, DKWS, KGs, um Malzoni e Gordinis.
Os Mark I ja estrearam ganhando. Aqui o 22 de
Bird.
Os Mark I eram de longe
os melhores carros da provam, e a ganharam com certa facilidade. O tempo de
Luisinho foi 4 segundos mais rápido do que o de Bird, que por sua vez, foi 4 s
mais rápido do que o de Olivetti. O paranaense Barranco chegou em 5°, atrás do primeiro Fórmula Vê, o Sprint de Nelson
Bastos. Zambello demonstrou não se adaptar bem às provas de subida de montanha,
chegando somente em 9° lugar, atrás dos outros Fórmula Vê, separados por
somente 1/10 de segundo!
O resultado final da
prova foi:
Col.
|
N°
|
Piloto
|
Carro
|
Tempo
|
1
|
21
|
Luiz Pereira Bueno
|
Prot Willys
Mark I
|
6m13s 1/10 média 96,514
km/h
|
2
|
22
|
Bird
Clemente
|
Prot Willys
Mark I
|
6m17s
|
3
|
65
|
Mario Olivetti
|
Alfa GTA
|
6m21s4/10
|
4
|
1
|
Nelson Bastos
|
Sprint Vê
|
6,m45 1/10
|
5
|
45
|
Altair Barranco
|
Carretera Ford
|
6m48s
|
6
|
7
|
João Varanda
|
Karmann Ghia Porsche
|
6m50s1/10
|
7
|
37
|
Antonio Pinto de
Souza
|
Jaja-Vê
|
6m54s
|
8
|
69
|
Jofre Gomes
|
Sprint Vê
|
6m54s1/10
|
9
|
23
|
Emilio
Zambello
|
Alfa
GTA
|
6m57s
4/10
|
10
|
9
|
Giovanni Bianchi
|
Malzoni
|
7m,03s 2/10
|
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