Por Carlos
de Paula
Em 1965 as
Mil Milhas já eram, de longe, a prova mais tradicional do calendário brasileiro.
Mas, coisas de Brasil, a corrida não era disputada desde os idos de 1961! No
centro da questão estava a pergunta: quem tinha direito de realizar competições
no Brasil? As brigas entre os Automóveis Clube e as Federações parecia chegar a
um final, ou pelo menos uma trégua neste final de 65, com certeza devido à
intervenção de um general de verdade, Elói Menezes. E esta era a época dos
generais. Na véspera da corrida, uma surpresa: o Automóvel Clube do Brasil
ameaçava suspender de atividades internacionais todos os pilotos que
participassem da prova. Ou seja, no auge da participação das fábricas no
automobilismo brasileiro, as Mil Milhas ficaram ausentes do calendário, e agora
que a corrida voltava, as fábricas estavam ausentes. De qualquer forma a corrida
foi disputada já no fim de 1965, após um ano muito disputado entre as fábricas,
e as coisas pareciam estar tomando um rumo para o pior para as equipes oficiais.
As Simca Abarth se foram para a Itália, havia rumores desconcertantes sobre a
Vemag, e a Willys simplesmente não compareceu, receosa da retaliação (a equipe
iria participar do Torneio de F-3 na Argentina no início de 1966, com o
Gávea).
Camilo disparou na frente, mas quebrou. Sua vez chegaria...logo.
Isto não
tirou o brilho das Mil Milhas de 1965. Lá estavam Camilo Christófaro e sua
carretera, em dupla com Antonio Carlos Aguiar. Também presente, o grande gaúcho
Catharino Andreatta, em dupla com seu filho Vittorio. E uma série de outras
carreteras, como a de Caetano Damiani, Justino de Maio, Zé Peixinho, José Vera,
Luiz Valente e o também grande Breno Fornari, com uma carretera “Simca”. A
equipe Jolly apareceu com suas Alfas 25 e 23, com Emilio Zambello, Marivaldo
Fernandes, Piero Gancia e Ruggero Peruzzi. Também corria um JK muito competitivo
(já chamado FNM!), com Jaime Pistilli e Leonardo Campana, além de um sem número
de DKWs, Gordinis/1093 e Simcas, perfazendo um total de 39 bólidos. Todos
ameaçados de suspensão.
Caetano
Damiani e Bica Votnamis chegaram em 2o. com a 34
Briga entre Damiani e Gancia com a Alfa 23
antes de quebrar
Camilo
Christófaro demonstrou a sua intenção de coroar um bom ano com a sua primeira
vitória nas 1000 Milhas, e saiu na cola de Caetano Damiani, que largara melhor,
logo passando para a ponta. Em terceiro outra carretera, de Justino, seguido das
duas Alfas e de um FNM, de Ugo Galina. Catharino Andreatta estreava um motor,
que amaciava na própria corrida, portanto não estava nas primeiras posições. O
train de corrida foi vagaroso desde o início, nunca inferior a 4 minutos, e
durante a noite, mais um cavalo foi atropelado numa Mil Milhas. Desta feita, o
azarado foi Francisco Zeni, mas pelo menos saiu incólume do acidente. E Totó
Porto filhou capotou com seu Gordini, também sem machucar-se.
Ruggero Peruzzi empurrando a Alfa 23, cujo tanque de gasolina quebrou: a
esta altura, completamente intoxicado
Camilo e
Aguiar lideraram durante um bom tempo, até as três e meia da madrugada. Na
73a volta, Camilo estaciona no Sargento, com quebra da ponta de eixo.
Pelo menos Camilo e Aguiar ganharia a última corrida de 1965, as 250 Milhas.
Assim Camilo/Aguiar deixara a liderança com Caetano Damiani, que fazia parceria
com Bica Votnamis. Atrás deles já estava Andreatta, que assumiu a liderança às
6:30. Infelizmente, a última 1000 Milhas de Andreatta não seria coroada com
vitória. Seu filho Vittorio dirigia quando quebrou a direção do carro. Assim,
com as falhas da carreteras, assumia a ponta Piero Gancia e sua fiel Alfa 23.
Entretanto, seu tanque de gasolina se desprendeu após meia hora na liderança,
jogando ao ar uma vitória potencialmente fácil. O piloto Ruggero Peruzzi se
intoxicou com o forte cheiro do combustível no carro, no qual foi improvisado um
desastrado tanque de plástico!
Chegada triunfal
de Maio/Azzalin
Vista pela traseira
de Maio/Azzalin
Após tantas
mudanças de liderança, finalmente chegou à ponta a carretera de Justino de Maio
e Vitório Azzalin, que não mais largaram a primeira posição. Justino teve boas
atuações no passado, inclusive nos 500 km de Interlagos, mas não se podia dizer
que era um “piloto de ponta”. Muito menos Azzalin. Mas este era o dia deles, não
era o dia dos rápidos e feras. Até a Alfa 25 de Zambello, que subira muitas
posições após ficar mais de uma hora nos boxes, chegando ao segundo posto,
começou a apresentar muitos problemas. Assim a dupla paulista acabou ganhando a
prova, literalmente na maciota, e novamente a corrida foi ganha por uma
carretera. A corrida acabou sendo também o melhor resultado de Bica Votnamis
numa disputa importante, pois chegou em segundo com Damiani na carretera
Corvette n° 34. Em terceiro, o FNM de Pistilli
e Campana, que fez boa corrida desde o começo, seguido do mítico Breno Fornari,
em dupla com Nestor Kosch e a Equipe Gancia. Classificado em 16° o futuro campeão do mundo Emerson
Fittipaldi, em começo de carreira com um humilde 1093. Outro fato curioso foi o
apelido presunçoso do companheiro do sempre vagaroso Inacio Terrana: T.
Nuvuolari(!!!!)
Classificação final das Mil Milhas Brasileiras
de 1965 27/11/1965
Posição/Pilotos
|
Número/Carro
|
Voltas
|
1. Justino
de Maio/Vitório Azzalim Filho
|
Carretera
Chevrolet Corvette n° 50
|
201
|
2. Caetano
Damiani/Bica Votnamis
|
Carretera
Chevrolet Corvette n° 34
|
199
|
3. Jaime
Pistilli/Leonardo Campana Filho
|
FNM
n° 5
|
185
|
4. Breno
Fornari/Nestor Koch
|
Carretera
Simca n° 35
|
184
|
5.
Marivaldo Fernandes/Emilio Zambello/Piero Gancia/Ruggero Peruzzi
|
Alfa Romeo
Giulia n° 25
|
182
|
6. Fernando
Pereira/Helio Mazza
|
Renault
1093 n° 75
|
180
|
7. Armando
Lagoeiro/Abelardo Aguiar
|
Volks
Porsche n° 45
|
178
|
8. Charles
Marzanasco/Osorio Araujo
|
DKW
n°19
|
177
|
9. Eduardo
Celidonio/Adão Brito Daher
|
Carretera
Gordini n° 99
|
177
|
10. Luiz
Valente/Luiz Valente Filho
|
Carretera
Ford n° 22
|
174
|
11. Luiz
Felipe Gama Cruz/Coruja
|
Renault
1093 n° 27
|
173
|
12. Claudio Bernard/Edward
Nahun
|
Simca
n° 87
|
173
|
13. Clovis
Bueno/João Batista Caldeira
|
Renault
1093 n° 85
|
172
|
14.
Valdomiro Pieski/Expedito Marazzi
|
DKW
n° 32
|
170
|
15. Arlindo
Viginewski/Jose Vera Filho
|
Chevrolet
Corvette n° 61
|
167
|
16.
Marivaldo Fernandes/Emilio Zambello/Piero Gancia/Ruggero Peruzzi
|
Alfa Romeo
Giulia n° 23
|
159
|
17. Marcelo
Audra/Silvano Pozzi
|
VW
Carretera n° 9
|
157
|
18. Emerson
Fittipaldi/Antonio Verda
|
Renault
1093 n° 16
|
155
|
19.
Aguia/Pardal
|
Gordini
n° 40
|
149
|
20. Ugo
Galina/Luciano Borghese
|
FNM
n° 39
|
149
|
21. Luciano
Bonnini/Chuvisco
|
Fiat
Stanguelini n° 30
|
145
|
22.
Arquimedes/Santo
|
DKW
n° 37
|
143
|
23.
Mago/Antonio Duarte
|
Renault
1093 n° 8
|
142
|
24. Nilo
Barros Vinhais/Roberto Dal Pont
|
DKW
Protótipo n° 20
|
139
|
25. Volante
13/Roberto G. Mendonça
|
DKW Mickey Mouse n°
13
|
123
|
26. Zé
Peixinho/Aires Bueno Vidal
|
Chevrolet
Corvette carretera n° 7
|
123
|
27. Catharino Andreatta/Vittorio
Andreatta
|
Carretera
Chevrolet Corvette n° 2
|
120
|
28.
Ariberto Iassi/Luiz Carlos Sansone
|
Alfa
Giulietta n° 28
|
122
|
29. Osmar
Coutinho/Mario Puchielli
|
Carretera
Ford n° 36
|
106
|
30. Roberto
Argentino Gomes/Rui Santiago
|
Simca
n° 82
|
106
|
31. Inacio
Terrana/T. Nuvuolari
|
Simca
n° 51
|
96
|
32. Jeff
Gagá/Zoroastro Avon
|
Gordini
n° 88
|
75
|
No comments:
Post a Comment